Os 'vagabundos' Estragon (Jon) e Vladimir (Adriano): A árvore é seca, mas da frutos... Godot que nos espere!
Após todas as confusões e atrocidades ocorridas na Segunda Guerra Mundial, o mundo, sobretudo a Europa, entrou num estado de vazio. A existência havia sido reduzida a nada com a barbárie do holocausto, evento este que foi assistido por inertes países que, meio século antes, não sabiam mais o que inventar com o advento cultural e enfervescente burguês da Belle Époque. Eis então que os "heróis", um vestido de azul e outro de vermelho chegaram para "salvar" o mundo. O de azul distribuiu indiscriminadamente seus produtos para 'quase' todos os cantos do planeta. O de vermelho se trancou e começou a ensinar novos "heróis", como "mudar o mundo", ainda que pagando com o próprio mito. Mas, com tudo isso, ainda persistia o vazio de sentido. Foi então que o dramaturgo Samuel Beckett, nascido em Foxrock, na Irlanda, em 13/04/1906, educado em grandes colégios do seu país e da Inglaterra, no ano de 1949, escreve a peça Esperando Godot. Oito anos então haviam se passado do fim do conflito mundial e a sociedade ainda não sabia "o que seria" e "para onde iria", quando em 1953, a obra de Beckett foi encenada, contando a história de Estragon e Vladimir, dois 'vagabundos' que se encontram diariamente debaixo de uma árvore, para esperar a chegada do Sr. Godot. Ambos conversam até a exaustão e vão embora para, no outro dia, ali, esperar novamente pelo ilustre personagem. E a situação se repete a exaustão. E sempre. E ele não chega.
Cacílda Becker como Estragon: a concentração no personagem causou um avc nos bastidores, tirando-lhe a vida, em 1968.
Estava ele, o Jon, com o coração agitado por uma paixão esnobe, algumas curiosidades n'alma, ideologias pouco elaboradas com a realidade e o tormento da falta de sentido, quando embarcou para o Brasil em 2006, para então trabalhar em uma entidade com pessoas extremamente pobres. Estava eu, o Adriano, com o coração dilacerado por um fardo de culpa, uma paixão esnobe, algumas curiosidades n'alma, ideologias pouco elaboradas com a realidade e o tormento da falta de sentido, quando decidi trabalhar em uma entidade com pessoas extremamente pobres. O Jon, um basco francês, jurista e existencialista por ofício. Eu, um básico brasileiro, professor de história e existencialista por opção. A empatia foi imediata: mulheres, futebol, música, artes e um tanto de humor sarcástico para cada uma destas coisas. Tão distantes e diferentes culturas numa amizade que se encontrou em equivalência, debaixo de uma árvore seca, mas dando frutos. As curiosidades, encontraram respostas. As ideologias se desmistificaram. Os pobres continuaram reféns. E no coração do basco, a paixão esnobe deu lugar a uma paixão nobre (ele não resistiria aos encantos de uma brasileira... Nunca!). Eu, exceto a paixão, passei por todos os mesmos processos. As coisas continuam sem sentido e esse é o negócio: enquanto não tem sentido, continuamos buscando! Assim, com este ímpeto da busca que um dia te lançou ao mundo pela dor, caro Jon, façamos nós também pelo amor. E as coisas acontecerão e, de fato, não vamos esperar Godot. Que assim seja... Que assim seja.
Para saber mais sobre Esperando Godot:
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