"SER" ESCREVER

"O QUE EU SOU E O QUE EU ESCREVO SÃO UMA COISA SÓ. TODAS AS MINHAS IDÉIAS, TODOS OS MEUS ESFORÇOS, EIS O QUE SOU." (C.G. JUNG)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Sobre o Vinho - Nota I - 02/07/2011


"...ut sint vina proxima morientis ori; tunc cantabunt laetius angelorum chori: sit Deus propitius huic potatori" (Obra "Vagantenbeichte", creditada a Arquipoeta - 1130-1165 composta no cerco germânico de Pavia - ITÁLIA, em 1163)

- Tradução: ‎"... quando os vinhos estão próximos da boca do moribundo: então cantarão mais alegremente os coros dos anjos: que Deus seja propício a este beberão".

PAVIA - ITÁLIA (C) Caplio G3 modelM User

ONDE ESTÁ O "DEUS" QUE VEJO? - DESDOBRAMENTOS DA "MINHA FÉ" - 02/10/2011


E-mail enviado para em reposta à querida Juliana Campos, em 28 de setembro de 2011 – 19h03.
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Boa tarde,

Em primeiro lugar, obrigado pela atenção e por estas belas impressões/expressões que tem compartilhado comigo. De fato, a troca de vivências é um dos mais extraordinários feitos que o ser humano pode fazer em vida.
O ser humano... O que defino e o que desconheço. O sentido do meu trabalho, do meu pensamento. Por ele me interesso e acredito em sua capacidade, na mesma proporção que o vejo "desfazer-se". Nestas figuras simples do cotidiano, representadas na Inês, identifico muito mais de mim. Frequentei meios acadêmicos com mestres, doutores, magistrados, etc, na busca do encaminhamento do que é trabalhar com o ser humano e, para minha felicidade, não encontrei. Foi entre as pessoas simples que descobri o que é o Ser Humano, de fato. Descobri a humanidade, longe de um conceito de humildade pedante, mas grande em doação de si, sobretudo ao compreender como homem e humano (demasiadamente humano), a figura de Giovanni de Bernardone, o São Francisco de Assis. Compreendi que o sonho de Paulo Freire, alfabetizando pescadores em 40 dias era outra ferramenta para caminhar, juntamente com a resignificação de Sartre, a literatura de submissa paixão de Dostoiévski, a poesia transcendental de Fernando Pessoa e as experiências de todos aqueles que, no seu cotidiano, constroem o que chamam de vida, ausente em recursos e rica em vontade, eram o caminho para a divindade. Como disse Oscar Wilde, "A simplicidade é o último refúgio de um espírito complexo". É no ser humano que me refugio, e é nele que busco este "Deus"...
O mesmo Deus que me deram, sem eu pedir ou optar, na pia batismal. O mesmo Deus que me sensibilizava na indignação de vê-lo morto pelos seus iguais. O mesmo Deus que se fazia presente, caso o que eu buscava no ocultismo me assombrasse mais do que desse respostas. O mesmo Deus que me fez buscar, no horizonte do Oriente, novas visões e "perda de sentido". O mesmo Deus que me fez, em desespero de não saber lidar com o próprio orgulho, querer conduzir ovelhas. O mesmo Deus que aos poucos se desintegrava e dava lugar ao "Eu". O mesmo Deus que sinaliza pelas bocas alheias, aquilo que eu não sei onde está e quero encontrar.

Se crês, eu creio.

Grande abraço.


Capela Sistina

SER PROFESSOR - 15/10/2011


Para todos os queridos amigos que entenderam que ser professor é bem mais do que ter uma profissão, complementar um salário ou ocupar o tempo ocioso. Ser professor é escolher a sociedade, por ela lutar e nela plantar sementes de transformação política e social. Ser professor é descobrir o caminho, mostrar o caminho e caminhar junto. 

Desejo para todos aqueles que fazem cotidianamente a construção de um país melhor, mais justo e humano, um grande abraço e os votos de grandes realizações nesta luta cotidiana. 

Estamos Juntos!

Adriano Tardoque


 “(...) se eu perguntar a mim mesmo: a coletivização, enquanto tal, será um dia implantada? Como vou saber? Sei apenas que farei tudo o que estiver ao meu alcance para que ela seja; eu o farei; para além disso, não posso contar com mais nada.”
(Jean-Paul Sartre)

EU, PROFESSOR: NÃO MENTI PARA OS MEUS ALUNOS - 02/02/2012


Em todos os lugares por onde passei e lecionei, fosse na escola particular, na escola pública ou em projetos sociais; fosse em salas de aula, quintais de casas antigas ou terrenos baldios... eu não menti para os meus alunos. Em todos os lugares, sempre com as metodologias pautadas num distorcido e incompreendido construtivismo, priorizei a desconstrução. Para todos eles, alunos ou educandos, procurei mostrar a vida real, com suas possibilidades de intervenções, as necessidades para isso e a busca de um "eu" em que se reconhecessem como agentes dos processos. Coloquei na mesa as "verdades absolutas e obsoletas" que traziam do seio de suas casas, fosse ela dos padrões de sua família, da sua televisão ou da internet, saindo pelo seu bairro, cidade, país, continente e mundo. Tratei os assuntos de forma clara e objetiva, pois conheço a linguagem deles e sempre transitei entre eles. Não fui apenas um adulto que ensina jovens: fui e sou um ser humano que com eles convive e com eles aprende, que com eles cresce, que com eles se desenvolve e que neles, acredita. Se farão algo com o que vivenciamos, eu não sei. Mas levarei a certeza de que lhes dei o que mais tinha de precioso: a dedicação de, no mesmo horizonte em que estavam, dar-lhes a voz,. a fala e a condição de subirem em suas mesas para discordar. Imaginar isso, por si, constitui grande alegria em meu coração. Eis o mundo! Que se somem, dividam suas responsabilidades e conquistem juntos.

2010 - em busca das transformações - pescador de pensamentos - 31/12/2009


2009 foi um ano de grande reflexão e, acima de tudo, um período em que pude elaborar mais e melhor meu coração e minha alma. Mais do que nunca, acredito que o sucesso de qualquer indivíduo não se constrói das coisas materiais que acumula, mas pela capacidade de ascender a sua essência humana e colocá-la em prática no cotidiano.  Falíveis ou frágeis somos todos dotados de capacidade e força transformadora, o que pode nos deixar eficientes e fortes, mas nada disso alcança significado e significância maior se não houver o olhar humano. Creio em mim, creio em você. Talvez ambos não acreditemos em nós, mas saiba que quando isso acontecer, nada mais ficará no lugar. E todas as demais coisas serão metamorfoseadas na essência. E teremos do melhor, para nos conduzir a qualquer tipo de felicidade. Celebremos, JUNTOS!
“A felicidade só é possível compartilhada” (Chritopher McCandless).
De alma,
Adriano Tardoque

Reflexão final de 2012: Humanidade


A reflexão mais profunda que faço em tempos como este é sobre a HUMANIDADE. Não aquela que eu observo como espécie, mas aquela que caracteriza o homem/mulher que serve aos propósitos de um bom convívio com seus iguais, sobretudo para que de fato estes sejam iguais. A humanidade a que me refiro é a que desejo que esteja em mim. Tem ela avançado ou estagnou? 
Medimos assim o sucesso das pessoas: pelo status social e bens adquiridos. Poucas vezes vi alguém dar votos e parabéns a outro, por entender que este outro atingiu maior humanidade, pela escolha de trabalhar mais pelo mundo em que vive e melhor pelos seres que caminham ao seu lado, sem ser visto como exceção. Que este período traga a luz do entendimento da verdadeira HUMANIDADE e que possamos ser muito mais do que aquilo que achamos que somos e possuímos. Que sejamos todos HUMANOS.
Grande abraço e felicidades ao lado dos teus.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

FALAS PERDIDAS

Detalhe de "O Jardim das Delícias" - Bosch

"Mas quando vi aqueles olhos constrangidos, dentes mordendo os lábios apreensivos, como que com medo de ser devorada viva (ao mesmo tempo em que demonstrava vontade, disso), tive todos os ímpetos despertados duma só vez."

"A beleza é como a cerveja: bebo e viajo em ambas!"

"Eu, falastrão incontrolável das mais alucinadas cousas e você, do tipo "ouço tudo... continua!"

CORAÇÃO DE PEDRA




Coração de pedra é como um escarpado terroir: se você tem cuidado e paciência, plantará as melhores uvas e  as colherá para os melhores vinhos."

MICRÔNICA INSTANTÂNEA: DONA CHICA - 15/11/2012


Conheci duas Donas Chicas. Ambas pessoas incríveis, que trabalhavam na limpeza de empresas em que trabalheo. Uma delas, a "Chica número 1", me recordo, deixou um bilhete na minha bancada no trabalho: "Se vai quere chocolati estantaneo do mercado?". Eu, achando que estava sendo engraçadamente gentil, respondi: "Só si for nesse ezato momento". Ela treplicou: "Ta bão, me da o dinhero. Exato é com X".

Fonte da imagem: http://donachicamg.blogspot.com.br/

MICRÔNICA INSTANTÂNEA: MERCADO MICROCOSMO - 13/11/2012

Economizo a calçada. Caminho 200 metros pelos mágicos corredores de cores e odores do Mercado Municipal. Feira de todos os dias, em que homens e mulheres anunciam com sorrisos e cordialidade. Variação de beleza feminina, da idosa a menina. Anciãos contam velhas histórias para novos curiosos. Orientais, árabes, africanos, gringos em toda espécie. Saciado com o cheiro de café que outro toma, saio do mercado e deste microcosmo.

MICRONICA DE PONTO DE ÔNIBUS: LOIRINHA - 12/11/2012


Loirinha linda, + ou - 23 anos, olhos amendoados, hiperlordose afrodisíaca... Mas tossiu no meu braço, pois não colocou a mão na boca e ainda fala gritando no celular.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O GRANDE CONE - 08 DE JUNHO DE 2009


Em seg, 3/6/09, Adriano Tardoque escreveu:

Tenho algumas sugestões...

Podemos criar uma Igreja, cujo deus seja um cone de 10 metros de altura, feito de pedra cinza. A doutrina desta religião será postulada por um comitê de notáveis, que saberão interpretar as vontades do Grande Cone para os homens da Terra.
Todos os fiéis deverão visitá-lo pelo menos uma vez por mês e deixar 20% do salário para que o mês seguinte seja abençoado. Ao inserir as cédulas (ou comprovante do débito automático) em um dos orifícios do Grande Cone, a pessoa fica em silêncio e aguarda que "a voz" divina fale com seu coração. Se não ouvir, é por que ainda não está pronto, precisando se esforçar mais para garantir o sustento da casa divina.
Podemos montar também, um trabalho social da religião, com aulas de artesanato e reciclagem. Tiraremos retratos constantemente desta linha de produção do miserê e emolduraremos nos próprios porta-retratos feitos de papelão e tampinha de coca-cola. Italianos e franceses investem e compram bastante este tipo de coisa! É claro que teremos que montar uma feira de trocas solidárias, para que as senhoras da aristoburgocracia [1] tirem fotos com os pobres e convoquem suas amigas a comprarem as coisas "lindinhas", produzidas nas bocas-de-lobo, transformadas em locais sagrados, pelos ideais da "revolução" que virá da pobreza. E ao final de cada evento, entregamos aos pobres tickets que valem pela troca de qualquer produto dentro da feira! Que legal! Imagina só chegar no albergue público e poder enfeitar ao redor da cama beliche com móbiles e luminárias... Isso alegra a vida!

Instituiremos também um trabalho de medicina alternativa, associando as técnicas do reiki, com os símbolos celtas, os cantos gregorianos e a pajelança amazônica. Cobramos a hora e os valores módicos, serão investidos em uma casa litorânea, com vista para o mar, onde os líderes espirituais farão retiros para conectar-se com o Grande Cone e receber as boas novas a serem empregadas ao povo santo.

Aproveitamos também e abrimos uma Universidade Grande Cone, visando expandir a religião, ligando-a ao mundo acadêmico. Trazemos historiadores e antropólogos franceses para sua formação (com franceses no meio, a satisfação torna-se imediata!) e sobre o pensamento francês, estabelecemos as diretrizes racionais que caminharão ao lado da teologia conecêntrica [2].

Aguardo posicionamento dos queridos amigos.

Sem mais.

Cone Adriano Tardoque

[1] Fusão definitiva da aristocracia com a burguesia.
[2] O Cone como o centro de todas as coisas.


Em seg, 8/6/09, Jon ITCAINA escreveu:

Querido Cone

Vi a luz do grande cone imediatamente na sua fala; é um grande projeto que com certeza interessara muitos patrocinadores aqui no meu pais, sobre todo se dentro do ritual, chegando no auge da meditação transcendental, tiver que sentar na ponta do grande cone 7 vezes, para que a força energética do Deus feito Cone entre diretamente na alma, uma creme da pureza poderia ajudar os menos puros a se abrirem à beleza do fundamento, a força da verdade;
Um primeiro ritual, para os iniciantes, ou seja, os que não teriam passado por provas de cultura francesa, de estética da pobreza e de "ética da revolução longe de casa", seria manusear [3] suavemente uma imitação do Grande Cone, 7 vezes por dia olhando para uma foto de pobre fazendo artesanato com papelão obrigatoriamente coletado na rua.

"Que legal! foi você que fez?" poderia ser o canto para iniciar a oração...ou "yes we cone"

Cone Jon

[3] Estímulo para o prazer sexual ou sinônimos (ele, originalmente, escreveu "punhetar")

SARAVÁ, HADES E A GREVE DA GRANDE MÃE - 04 DE JUNHO DE 2009


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Em ter, 2/6/09, Adriano Tardoque escreveu:
Saudações Flavião

Como caminham as coisas?

(...)

Vi que a "Nossa Senhora" USP está em greve. Uma das reivindicações é o fim do curso de formação de professores via EAD. O que acho interesante é que os "nobres" doutores desta entidade e seus "mestres" asseclas reforçam junto aos alunos, sobretudo do curso de História, que "dar aula na rede é o fim do poço", fomentando a competição pelas graduações internas da universidade, num nível que "capitalismo selvagem" algum põe defeito! Além disso, quando surge um problema de grande proporção, sobretudo que envolve violência nas escolas, lá vai o cientista social, especialista em educação da MADRE, dar seu parecer na TV. O último que ouvi falava dos professores "desinteressados" por conta dos baixos salários e sucateamento da formação. Ainda bem que eles "sabem o que querem" quando formam e estimulam a necrofagia dos ídolos entre os estudantes e quando criam essa relação de coprofilia com a mídia.

Link: 
http://br.noticias.yahoo.com/s/02062009/25/manchetes-alunos-docentes-da-usp-paralisacao.html

Abraço desiludido do amigo,

Adriano Tardoque
Em qua, 3/6/09, Flavio Landolpho escreveu:
Caríssimo Mártir Amigo

Tal como você estou emaranhado tal qual pinto em estopa! (...) Em relação aos intelectuais da USP, comparo-os com a maritaca que 'cantava' trechos de ópera, agradando de tal forma a Catarina, a Grande que esta titulou-a como marquesa, exigindo da corte que fizesse todas as vênias do protocolo a esta TALENTOSA ave... Estes meu caro, tão só gorjeiam como dita a moda e já se dão fumos nobiliárquicos! E que gorjeios são estes? O transgênico (ou seria travestido?) discurso da inclusão, do comprometimento, motivação, etc., etc....
Lembrando o Velho Barbudo: A primeira versão é a tragédia, as repetições são farsas...
Em relação a isso, lá na Casa de Orates (...), o discurso por mais semelhante que seja, temos acertos mudos e muito eloquentes que nos direcionam para promover ou reter na medida dos interesses da área financeira ou da aproximação do ENAD.
Ai que vergonhoso fim de carreira: Baixo meretrício, cafetinagem pedagógica, michetagem curricular, sado-masoquismo hierárquico, escatologia verbal-literária-avaliatória! Olho-me no espelho e confesso: "Flávio, sonhaste com o intelecto? Acorda como um perro michê agora!
Ai de nós, Amigão!
Assim que possível vamos nos encontrar para um café, ok?
Abração e até breve,

Flávio


OS SÍMBOLOS, O ADEUS E VIDA COMPARTILHADA - 22 DE MARÇO DE 2009


Os ciclos da vida

No Fim do Mundo, é um bar que fica em Santana, Zona Norte de São Paulo. É diferente do que se conhece em geral: instalado num casarão do século XIX, com arquitetura francesa e italiana, tem ambiente expositivo, estúdio e bar. Tornou-se uma opção para quem quer alguma coisa diferente, com ambiente mais voltado a cultura, desde a decoração até a escolha de repertório musical. O símbolo do bar é a Trisquel (ou Triskel, Triskele) que, até onde se sabe, representa os ciclos da vida [1]. Estes ciclos que devem ocorrer, pois está naturalmente determinado assim: nascer, viver, morrer, alimentar a terra, alimentar novas vidas. Eu olhava para o símbolo e, enquanto meus amigos conversavam sobre a recepção do outono, eu pensava na amiga querida que perdi a pouco tempo. Dias antes, ao encontrá-la ali, imóvel e sem o sopro da vida, tive uma reação diferente do que ocorrera em outras vezes: em meu coração, só restava a gratidão por cada palavra e cada sorriso que compartilhou, enquanto pudemos conviver. Se aprendi a lidar com a partida, não posso dizer. Certamente, ser grato por tudo que me fez sentir melhor, é um passo grandioso. Sem o desespero do adeus, mas com o reconhecimento do que foi compartilhar intensamente. Creio que viver é isso.

[1] Com origem provável na região da Galiza, ao Norte de Portugal e Noroeste da Espanha, provavelmente se espalhou pela Europa Antiga. Era usado pelos celtiberos, mas não se sabe se deles era originário.

Mapa da Galícia
Para saber mais:
http://www.nofimdomundo.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1&Itemid=2

http://www.forum-gallaecia.net/viewtopic.php?t=40

SE APAIXONAR PARA QUÊ? RESPOSTA INSTANTÂNEA PARA PERTURBAÇÕES DISTANTES E CONSTANTES - 08 DE ABRIL DE 2009


Kurosawa e paixão: sonho que estava dentro de uma pintura de Van Gogh

Para que a vida tenha motivação, desejo, transformação, impulso, vitalidade, segredo, cumplicidade, lembrança, saudade, loucura, dedicação, afetividade... Para ter graça.
Para que a visão se abra e se expanda. Como a luz que arrebenta o dia e aquece o coração. Como os raios luminosos, que apresentam as cores.
Para que o paladar se estabeleça e se aprimore. Como a cada alimento Mediterrâneo, regado pelo azeite dos gregos. Como cada gole do café, recém torrado e moído.
Para que o olfato traga sempre o pensamento. Como os cabelos molhados, que perfumam o ar e a cama. Como o cheiro da pitanga, que a boca enxágua.
Para que a audição se encarregue das respostas. Como a cada suspiro, que recebe de troco um beijo. Como cada canção peculiar, que representa uma emoção.
Para que o tato traga as demais coisas. Como se cada carinho, fosse o último e o primeiro. Como fazer dos lábios, eternos descobridores.

O QUE TERÁ ACONTECIDO COM HARRY HALLER? - 16 DE MAIO DE 2009

EU ACREDITO! - 23 DE JULHO DE 2009


"Eu vi você construir o sonho.
E vou vê-lo usufruir do sonho."

23 DE DEZEMBRO DE 2009 - NO HOSPITAL



A dor me impediu de ver e pensar durante certo tempo, até que a consciência se instaurou me  levando a tirar a atenção de mim mesmo. Ao observar as coisas ao meu redor, pouco a pouco, envolvido pelas imagens, sons e pensamentos que aconteciam como enxurrada, as coisas foram mudando. O menino de colo, se jogando para trás, envolto nos braços da mãe, era observado pela irmã que, timidamente, olhava para as pessoas, buscando suas reações. A moça de óculos vermelhos e cabelos presos por uma grande presilha de tom mármore, mergulhada num livro metade lido, é indiferente a tudo. As caixas de som anunciam meu nome e, ao chegar para a coleta do sangue, não me sai dos olhos a velhinha senhora, inerte, na cadeira de rodas, olhar sem vida, enquanto a filha lhe enxuga os lábios e o suor. Uma mulher conduz pela mão o senhor que, caminhando lentamente e com a camisa de botões toda aberta, repete e comenta tudo que ouve pelos corredores. Num dos cantos, a filha consola o cansado pai, enquanto um homem baixo, grisalho, de sobrancelhas grossas que, como eu, aguarda por um eletrocardiograma, contando casos de paranormalidade.  Muito franzina, de cabelos negros e caminhando com dificuldade, uma mulher com um vestido rosa, contrastando com inúmeras feridas espalhadas por ambas as pernas, cruza meu campo de visão. No meu ouvido, de um lado o som ambiente e, do doutro, Mozart que, ao contrário de me distrair, compõe o fundo musical para o bailado das mazelas humanas. 

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