"SER" ESCREVER

"O QUE EU SOU E O QUE EU ESCREVO SÃO UMA COISA SÓ. TODAS AS MINHAS IDÉIAS, TODOS OS MEUS ESFORÇOS, EIS O QUE SOU." (C.G. JUNG)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A DIALÉTICA DA DESGRAÇA - DESABAFOS POR E-MAIL - 18/04/2009

Miséria e problemas sociais brasileiros: fetiche predileto das elites intelectuais de metrópole (França e Europa) e de colônia (Brasil)

Data: Quinta-feira, 16 de Abril de 2009, 15:53


Ola camarade.
Cara tô arrasado: hoje me deparei com uma moça francesa "apaixonada pelo Brasil"...ela morou 6 meses no Rio de Janeiro mantida pelo ministério da cultura francesa para fazer um "trabalho cultural ( com um grande cu ), ou seja fotos de crianças e mães de favelas para expor em Paris, em uma galeria de arte...a estetização da pobreza da favela é incrível... e depois tem que ouvir que o governo francês não tem grana para investir nos programas sociais ou educativos! quase matei a menina que tinha um papo revolucionário tipo "o povo da favela é muito legal e feliz... o traficante é legal porque faz trabalho social...e claro, falou a palavra "eu" 48 vezes em 10 minutos de conversa...ela sinceramente achava que ajudou o pais "pobre", resolveu muitos problemas do Brasil com as suas fotos " temos que conscientizar o povo europeu muito burguês ( ... ) , que não entende nada da globalização que EU estou dominando com a minha arte"...parisiense metida arrogante paga por nossos impostos para foder com os cariocas e se masturbar punhetando a miséria do morro... Sem comentários! A nossa civilização é totalmente decadente e vai pra água baixo... Perguntei para ela quanto ela pagou os traficantes para fazer aquela merda! não agüento mais esses intelectuais de esquerda franceses sempre julgando todo mundo com e assumir os privilégios extraordinários dos quais são beneficiados...patético! Ela me explicou o Brasil, conhecia muio bem São Paulo (a Paulista e Moema , os moradores de rua eram "muito legais" ela conhecia um no Rio.. .Coitada elite decadente! Desculpe mas era preciso desabafar, caralho! Com certeza no livro que estou escrevendo vou colocar uma personagem francesa ou italiana artista que veio se masturbar com os pobres.

Jon o basco brasileiro


Sexta-feira, 17 de Abril de 2009 10:42

Pois é meu caro e honrado amigo...

Infelizmente a tradição européia em atribuir glamour a pobreza é, ao meu ver, um dos principais canceres da "pseudo-humanidade" atual. E isso tudo é fruto de uma tradição acadêmica que está na raiz da coisa e que incrivelmente não é observada pelos intelectuais ateus e ditadores das modas científico-humanas, como uma manifestação etnocêntrica, sobretudo das escolas francesas de sociologia e antropologia. Os intelectuais brasileiros (formados pelos franceses desde a década de 30), são co-responsáveis pela proliferação deste fenômeno, colaborando para a dialética da desgraça, produtora dos fetiches mais violentos e degradantes do que a própria pobreza. Antes tivesse o maio de 68 confirmado as pixações dos muros, colocando os padres e os sociólogos em praça pública, onde todos os moradores de rua seriam servidos com pão e vinho, francês para assistir o duelo que somente terminaria quando um dos "gladiadores" fosse enforcado com o intestino grosso do outro.

Estas "concubinas" da miséria, sejam elas as new-feministas, as old-bichas ou homens-putas, são incentivados a acreditar que estão "transformando" o mundo com suas fotografias em favelas e morros, seus relatos de "capacidade antropológica de se inserir na coisa", por ter negociado a sua exploração da miséria, com um traficante (também explorador da miséria), que ganha aura de "semi-deus" ao permitir que, em nome duma arte vadia e degradante, crianças e adolescentes com armas nas mãos, sejam apresentadas como arte nos mais gabaritados museus do "primeiro mundo". Será que ela assistiu ao filmes-documentário Falcão - Meninos do Tráfico ou Notícias de uma Guerra Particular antes de elaborar suas "teses fotográficas"? Será que, algum dia, foi para a "balada" na noite carioca e esticou algumas fileiras de cocaína com a classe média televisiva e verminosa que manda e desmanda na "cultura" de lá, além de serem os derradeiros clientes das dinastias do pó que estão morro acima?

Caro amigo, eu não dou conta mais. Vomito até o que não comi para rechaçar este tipo de gente.

Torço pelo seu livro e faço questão de que mostre aos porcos que os diamantes que comeram são carvão em brasa.

Grande abraço!

Adriano

PS: Tomei a liberdade de copiar este e-mail para o meu amigo Flávio, pois sei o quanto ele "adora" estas coisas. É dos nossos, caro Jon.



Domingo, 19 de Abril de 2009, 17:16

Caríssimo Adriano

A Europa (sobretudo a França) e seu grande bastardo, os EUA, são lobos esfaimados. As carnes escuras do mundo, as terras quentes do globo, são o alvo de suas sanhas sempiternas.
Enojo-me, não com isso, que é histórico e em certa medida, imutável, mas com o desprezo que sentem por essa mesma carne escura e torrão ensolarado que cobiçam com ganas de um usuário de crack!

Todas essas fantasias necrófilas e canibalísticas que inventam, tem uma única razão de ser, justificar a baixeza, a incapacidade, a desumanidade e subserviência dos devorados, ou seja, nós, os mestiços repugnantes moradores dos lugares quentes do planeta...

Ainda assim, os piores mesmos, são os intelectuais indigentes que disfarçam esse espírito com discursos caritativos, de admiração basbaque pelo exotismo capenga que fingem enxergar, de desbravadores civilizados diante da barbárie sórdida e colorida, que justificam sua inge rência, palpites, idiotices e mentiras deslavadas através de bobagens tectônicas e falsas a não mais poder.

A nossa 'inteligentsia' não fica atrás... Porém, devo confessar que a dialética dos lobos é mais genial e elaborada, ao passo que a nossa é uma cópia, muito, muito modesta (diria uma cópia de mimeógrafo a álcool, lembra disso?)...

A França é uma loba obesa e sempre faminta; A Inglaterra é um pittbull glutão e rancoroso; A Espanha é uma áspide doente, que não se cansa de atacar a si mesma e aos outros; Portugal não passa de um modesto e venenoso escorpião, sem forças de sair de dentro da toca decadente; A Itália é uma ave de rapina decrépita, caduca e ineficiente; A Alemanha, um javali hidrófobo que cedo ou tarde sai da floresta mofada para produzir destruições apocalípticas... E os EUA? Bem, acredito-os bem parecidos com um basilisco gordo e ferido, mas mais mortal do que nunca...

Quanto rancor, não? Bem, isso é a única coisa que me resta, já que sou também comida de canibal, objeto de posse dos necrófilos de pele clara e alma suja...

A América Latina e o Brasil, principalmente, parecem-se mais e mais com uma vaca prostada, que já não vai mais produzir leite, aproximando-se rapidamente do abate... Entretanto, permitem-se abater com um sorriso beatífico de louco, de louco da aldeia global, achando em sua eterna passividade suicida, que sendo vaca, é mister ser ordenhada até o esgotamento do sangue e servida em um grande banquete, onde as feras não só a degustarão, como celebrarão sua imbecilidade voluntária com arte e reflexões bonitas... E dizer que na absurda e andrajosa India, a vaca representa a cosmogonia...

Elogiar a favela e o traficante, celebrar a felicidade dos condenados, são recursos usados à exaustão, mas parece ainda funcionar. Vamos fazer um 'favela movie' ou uma 'ode ao traficante'? Talvez a gente consiga morder algo dessa caterva...

Abração,

Flávio

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