"SER" ESCREVER

"O QUE EU SOU E O QUE EU ESCREVO SÃO UMA COISA SÓ. TODAS AS MINHAS IDÉIAS, TODOS OS MEUS ESFORÇOS, EIS O QUE SOU." (C.G. JUNG)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

23 DE DEZEMBRO DE 2009 - NO HOSPITAL



A dor me impediu de ver e pensar durante certo tempo, até que a consciência se instaurou me  levando a tirar a atenção de mim mesmo. Ao observar as coisas ao meu redor, pouco a pouco, envolvido pelas imagens, sons e pensamentos que aconteciam como enxurrada, as coisas foram mudando. O menino de colo, se jogando para trás, envolto nos braços da mãe, era observado pela irmã que, timidamente, olhava para as pessoas, buscando suas reações. A moça de óculos vermelhos e cabelos presos por uma grande presilha de tom mármore, mergulhada num livro metade lido, é indiferente a tudo. As caixas de som anunciam meu nome e, ao chegar para a coleta do sangue, não me sai dos olhos a velhinha senhora, inerte, na cadeira de rodas, olhar sem vida, enquanto a filha lhe enxuga os lábios e o suor. Uma mulher conduz pela mão o senhor que, caminhando lentamente e com a camisa de botões toda aberta, repete e comenta tudo que ouve pelos corredores. Num dos cantos, a filha consola o cansado pai, enquanto um homem baixo, grisalho, de sobrancelhas grossas que, como eu, aguarda por um eletrocardiograma, contando casos de paranormalidade.  Muito franzina, de cabelos negros e caminhando com dificuldade, uma mulher com um vestido rosa, contrastando com inúmeras feridas espalhadas por ambas as pernas, cruza meu campo de visão. No meu ouvido, de um lado o som ambiente e, do doutro, Mozart que, ao contrário de me distrair, compõe o fundo musical para o bailado das mazelas humanas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LICENCIADO

Licença Creative Commons
Cartas Catarticas de Adriano C. Tardoque é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 Unported.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://www.facebook.com/adriano.tardoque.