"SER" ESCREVER

"O QUE EU SOU E O QUE EU ESCREVO SÃO UMA COISA SÓ. TODAS AS MINHAS IDÉIAS, TODOS OS MEUS ESFORÇOS, EIS O QUE SOU." (C.G. JUNG)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

REFLEXÕES PÓS-CONSCIÊNCIA DA BARRIGA: UMA ''DESSAS" INCOMODA MUITA GENTE! (08/02/2008)


Um dia desses, estava eu em casa sem absolutamente nada para fazer, até que uma passagem na frente do espelho me deixou perplexo, quando deparei com a invasão de saliências na região do abdômen (barriga), que havia esquecido. Imediatamente, colocando tênis nos pés, apanhando um par de óculos escuros e a carteira, bati em saída. Tinha que caminhar. Como sempre faço, saí pelas ruas do bairro, evitando uma avenida bastante movimentada, com um enorme canteiro, ao lado de casa, pois essa está disposta em linha reta e, ao meu ver, nada faz para tirar esforço algum de corpos “acomodados”. E no caminho, dá-lhe subida, dá-lhe descida e lá estou eu a caminhar. Até que num gesto de absoluta imbecilidade, decidi parar de frente para uma balança, numa farmácia, movendo toda a minha massa suada para cima do aparelho. Ah se arrependimento matasse! Eis que algo diferente interrompe esta lamúria: o farmacêutico me cumprimenta, perguntando sobre a família, etc. Respondi que estava tudo bem, falei sobre o tempo que fechava para a chuva cair, agradeci e fui embora. Logo pensei “não conheço este cara”. E assim, estava iniciado um tortuoso exercício de lembrança para buscar na mente qual a situação em que conheci este homem. Movimentava neste momento, então, corpo e mente. Mas não tive tempo de se que começar: enquanto subia uma pequena ladeira, um rapaz com ar “alegre” e uma moça de hiperlordose incrivelmente “hiper”, conversavam e, quando me viu, ele interrompeu a fala da moça e me cumprimentou, sorrindo. Pensei “mas o que será que está acontecendo, hoje? Estarei eu sendo confundido com algum ator que interpreta um vilão na novela das sete? Terei eu ficado famoso pela elaboração de alguma tese o sobre o Paradigma Entre a Ação Social Religiosa e a Laicização do Trabalho Social no Brasil, após a década de Noventa e As Novas Perspectivas para a Auto-sustentabilidade com Base no Modelo Cultural de Educação Popular (títulos acadêmico-orgísticos me dão asco!), ou publicado algum livro que tenha vendido mais que o Paulo Coelho? Ou será que fui parar nas manchetes dos programas esportivos por afirmar que certo movimento democrático no futebol brasileiro, em meados dos anos oitenta, não passava de uma jogada de marketing para atrair investidores a o clube? Pensando bem, deve ter sido pela entrevista ao um programa de uma rádio de jornalismo, analisando as "permanências (ou não - como diria Caetano Veloso) das idéias tropicalistas na gestão globalizada do ministro da cultura, solidário a uma C&A de teatro estrangeira e rica, com uso de leis de incentivo brasileiras!?" Ou até, por que não, quem sabe, tenha participado de um programa de auditório de perguntas e respostas da TV, tendo perdido o prêmio na última rodada”... Depois disso, ainda fui cumprimentado por uma senhora idosa que passeava com um basset (também idoso), fui alertado por uma buzinada de carro e ouvi um “opa!” de passagem, além de receber um sinal de “jóia”, de um pedreiro que trabalhas nas obras de um edifício que tem uma entrada de imensas colunas romanas e arcos clássicos, (será que estamos voltando ao período dos imperadores?). Delírios à parte, o fato é que, ao chegar em casa, pingando de suor dos pés à cabeça, estava tão ansioso com as possibilidades que se passaram quanto às coisas que pensei no decorrer da caminhada que, não tive outra alternativa que não fosse comer um lanche maior do que minha boca e beber um balde de café. Quanto à luta contra a barriga, deixo para a fé. Está escrito na bíblia que um “grão de mostarda, move montanhas”. Assim, enquanto que a mostarda que conheço já deixou de ser grão e é um molho para se comer, espero eu, encontrar o “grão da fé”, no incômodo da simplicidade cotidiana, “liquidificada” numa cabeça que não para.

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